Nos últimos dois anos, o CEEJA formou mais 25 alunos com deficiência auditiva. Nesta quarta-feira, dia 4 de setembro, a proposta da atividade é aprofundar o debate acerca da situação dos deficientes auditivos por meio da arte do cinema.
Filme: A Família Bélier
Uma filha que canta e pais que não ouvem. Uma difícil decisão: usar sua voz para expressar a si mesma ou à sua amorosa família deficiente auditiva.
Muito bem resumido por Angelo Caponte Jr., em ‘Filmes Franceses‘, “A grande sensatez de ‘A Família Bélier’, comédia do diretor Eric Lartigau (de O Homem que Queria Viver a sua Vida, com Romain Duris), é movimentar-se não entre altos e baixos, mas por uma harmonia construída de modo impecável. Não há, aqui, pausa para tornar tudo grandioso, e sim uma compreensão atenta de temas contumazes – como o desafio de deixar o ninho.”
Trailer:
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Para Luciana Helena Mussi, em ‘Portal do Envelhecimento’,
“… o filme emociona pela força da intensidade dos sentimentos, desejos e gestos dos personagens. Sempre como verdadeiras explosões que falam de afeto e acabam nos tocando pelas constantes faíscas de generosidade, nunca pelas limitações impostas por uma suposta deficiência.”
Uma história muito simples, contada com profundidade e bom humor, aborda o despertar da consciência para a autorrealização; o libertar-se para ser quem verdadeiramente se é, o que passa pela cura dos relacionamentos.
Nas relações humanas aprendemos as lições
que nos levam a experienciar o
verdadeiro amor. O caminho da
libertação inevitavelmente passa pela
cura dos relacionamentos.
— SRI PREM BABA —
Ao contextualizar uma família extremamente unida não só pelo amor entre seus membros, mas pela circunstância de uma deficiência física, mostra um caso extremo de conquista da autoconfiança necessária para a autorrealização, explicitada na aceitação do talento para o canto do único membro da família sem deficiência auditiva, deixando a mensagem de que sempre é possível, de que sempre há uma alternativa, basta o querer de cada um.
De um lado, os pais, como todos os pais, precisam encontrar sua própria voz – uma metáfora para os dons e talentos de cada um, libertando-se de qualquer dependência criada pelo medo de perder o vínculo da filha – como todos os filhos – com a família, de não serem aceitos e amados por si mesmos.
O relacionamento é uma grande (se não a maior)
ferramenta de autoconhecimento. Qualquer tipo de
relacionamento tem o poder de expandir a consciência
amorosa. Ao mesmo tempo, o relacionamento é um
grande perigo porque, quanto maior o vínculo afetivo,
maior a possibilidade da codependência. Quanto mais
dependente do outro, mais você deseja fazer dele um
escravo; mais você quer dominar e controlar dentro da
relação porque acredita que se ele estiver amarrado no
pé da sua cama você estará salvo.
— SRI PREM BABA —
De outro lado, a filha, como todos os filhos, precisa encontrar sua própria voz, realizar seu propósito através de seus dons e talentos, libertando-se do papel de voz para os pais, uma identificação ou máscara criada para também ser aceita e amada.
A lembrança de si mesmo está intimamente
relacionada com a virtude da confiança. Em
determinado momento da jornada, você precisou
usar uma máscara por que achou que, sendo você
mesmo, não seria aceito; seria rejeitado, abandonado
e talvez tivesse que passar por privações. Por causa
desse medo, você precisou se proteger. Portanto,
retirar a máscara significa encarar esse medo tão
profundo. Experimente se perguntar: Se for eu
mesmo, serei aceito? E observe com honestidade
para ver se já é possível dar um passo em direção à
autoconfiança.
— SRI PREM BABA —
Em todo e qualquer relacionamento, familiar ou não, amar conscientemente significa amar desinteressadamente; significa aceitar os dons e talentos de cada um, aceitar verdadeiramente as diferenças, sem medo de ser amado por si mesmo.
Quando nos libertamos dos obstáculos que nós mesmos
criamos para a nossa felicidade, tudo se torna possível.
— SRI PREM BABA —
Ao assistir este filme, lembrei-me imediatamente de um lindíssimo pensamento de Osho, uma analogia do encontro entre rio e oceano com a superação do medo de abandonarmos nossas máscaras e sermos nós mesmos.
Dizem que antes de um rio entrar no mar, ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada que percorreu, para os cumes, as montanhas, para o longo caminho sinuoso que trilhou através de florestas e povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto, que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. O rio precisa de se arriscar e entrar no oceano.
E somente quando ele entrar no oceano é que o medo desaparece, porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas de tornar-se oceano.
— OSHO —
Cada indivíduo é um rio. A superação do medo é um processo individual de compreensão, aceitação e gratidão por tudo o que nos acontece, de alcançarmos a liberdade para ser o que podemos ser, de amar incondicionalmente. É mais uma vez a reafirmação do livre arbítrio. Só transformamos a nós mesmos.
Edgar Morin (sociólogo e filósofo francês) afirma que o cinema, entre todas as artes, é a que mais se aproxima da experiência humana. É o recurso através do qual podemos buscar a superação da indiferença, onde, esquecendo-nos de nós mesmos, projetamo-nos nas histórias e heróis que aparecem.
‘A Família Bélier’ nos permite uma reflexão única sobre encontrarmos nossa própria voz; de realizarmos nosso propósito através de nossos próprios dons e talentos; de sermos quem verdadeiramente podemos ser – através do autoconhecimento, autorresponsabilidade e autoconfiança; de nos ‘tornarmos oceano’; de voarmos – como expresso magnificamente na canção ‘Je Vole’ – ‘Eu Voo’, de Michel Sardou. Namastê!
Queridos pais, estou partindo
Eu os amo, mas estou partindo
Vocês não terão mais filhos esta noite
Não estou fugindo, estou voando
Entendam bem, estou voando
Sem cigarros, sem bebidas
Estou voando, estou voando
Ela me observava ontem
Incomodada e perturbada, minha mãe
Como se ela sentisse, na verdade, ela suspeitava
Escutava
Eu disse que estava bem, com ar sereno
Ela fingiu que estava tudo bem
E meu pai sem poder fazer nada, sorriu
Não olhar para trás, afastar-se um pouco mais
Há uma estação, e outra estação, e enfim, o Atlântico
Queridos pais, estou partindo
Eu os amo, mas estou partindo
Vocês não terão mais filhos esta noite
Não estou fugindo, estou voando
Entendam bem, estou voando
Sem cigarros, sem bebidas
Estou voando, estou voando
Eu me pergunto no caminho
Se meus pais desconfiam
Que minhas lágrimas escorriam
Minhas promessas e a vontade
de ir em frente
Apenas acreditar na minha vida
Tudo o que me foi prometido
Por que, onde e como
Neste trem que se afasta
A cada momento
É estranha esta prisão
Que bloqueia meu peito
Não consigo mais respirar
Está me impedindo de cantar
Queridos pais, estou partindo
Eu os amo, mas estou partindo
Vocês não terão mais filhos esta noite
Não estou fugindo, estou voando
Entendam bem, estou voando
Sem cigarros, sem bebidas
Estou voando, estou voando
La la la la la la la la la la la la
Estou voando
— ADAPTAÇÃO DE ‘JE VOLE’, MICHEL SARDOU —
Fonte: https://cinefletindo.wordpress.com/2018/01/05/a-familia-belier-2014/